GRUPO TOTEM

Projeto
 'A performance do Humano - da pedra ao caos'


I Vivência Arteterapêutica - Silência


A intenção desta vivência foi despertar para o sentimento do ato ritual experimentado. A intensa  movimentação do corpo através da dança havia sido pensada como caminho de encontro a conteúdos profundos da alma, o que foi feito. Por outro lado, tivemos imprevistamente um saco de leite líquido cheio, somado ao desejo de se realizar um ato ritual com o mesmo. Neste momento foi despertada a simbologia ritualística de nossa noite. Fé, compartilhamento, coletivo, repetição, verdade. Estas foram as palavras iniciais do grupo para descrever RITO. Qual seria a verdade da imagem vivida pelos mesmos naquela experiência, onde a água que caía do céu parecia abençoar o ato de passar pelo portal de dentro para fora? Debaixo de chuva, mãos sobre um saco de leite fazendo um gesto circular remeteu meu imaginário a barriga feminina cheia, grande, grávida. O leite branco estourado sobre o asfalto da avendida contrastava um cinza poluído. Silência. Leite a escorrer e se espalhar, imagem.  O percurso do leite no chão. O grupo entrou num outro tempo, mostrado nas pinturas e palavras:

Acolhimento, colo, cuidar                  - o processo ar.

Sangue, dança, cão, cachorro,
caboclo, mestiço, vira-lata                - o duplo.

Mãos, leite, viagem profunda, 
o que sangra, o que nasce, morre   - volta a se repetir.

Dor, girar, girar, peso no corpo, 
braços abertos, rodopios, 
correr pelo espaço                           - pai e mãe.

Anestesia, a minha razão,
luz oculta                                         - foco morto.

Esse branco vai me tomando...

Homem ancestral.

Foi um momento de catarse, de explosão e abertura. Foi como destampar algo que estava pronto para emergir. Cedo ainda para análises, inclusive porque as palavras podem desmiuçar, debulhar conteúdos simbólicos que interessam vivos pulsantes no corpo não racional, na certeza da verdade profunda do que pode ser vivido, experimentado, experienciado. Neste caso a lógica empobrece, reduz, desfaz. Silencia.

Carol Cosentino 

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